Em Santa Maria da Feira há 25 homens que, uma vez por ano, deixam crescer a barba durante mês e meio. Os "barbudos" fazem parte do elenco da recriação da Semana Santa que, há duas décadas, recria os últimos dias da vida de Cristo.
Hoje o ponto alto acontece com a Via Sacra. São figurantes e actores que não descuram o mais pequeno detalhe para dar vida e autenticidade histórica às recriações que tem comovido milhares de pessoas que, por entre lágrimas abundantes, se mostram rendidas com as interpretações a cargo do Gólgota - Grupo de Expressão Cultural e Social da Espiritualidade Passionista.
As barbas que, para alguns, se tornaram numa espécie de penitência anual a que se entregam com afinco, são um dos exemplos do perfeccionismo imposto nas recriações. "É um sacrifício dos graúdos" garante José Gouveia, um reformado da GNR de 68 anos, que veste a pele de José de Arimateia, personagem mítica que pede a Pilatos a entrega do corpo de Jesus. A simples decisão de deixar crescer a barba pode revelar-se numa tarefa complexa. "Por vezes temos que passar declarações para que os participantes consigam convencer os donos das empresas a deixarem-nos andar com a barba" afirma o padre, Nuno Almeida, um dos organizadores da Semana Santa. Mas nem sempre se consegue demover os patrões mais irredutíveis. Nuno Almeida explica que o pormenor da barba é apenas um dos factores que ajudam a "interiorizar" o espírito da mensagem da Páscoa e que contribuem para a qualidade das recriações que desde a passada semana tem atraído milhares de pessoas.
Cuidados nas representações que serão mais uma vez colocados à prova perante os olhares atentos que, pelas 21 horas de hoje, independentemente do estado do tempo, se irão concentrar no antigo Tribunal da Feira, onde vai decorrer a Via Sacra.
A recriação, que se inicia com o julgamento e condenação de Cristo e que conta com mais de 80 intervenientes entre actores e figurantes, percorre o centro histórico da cidade e termina no castelo.
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